Negócios conscientes devem ter um propósito maior, que crie cultura e valores
por Hugo Bethlem*, Presidente do conselho do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB), para Folha de S.Paulo - Opinião 26.out.2020 às 9h30
O capitalismo consciente é a forma mais humana, ética e sustentável de gerar riqueza a todos "stakeholders", enquanto gera lucro ao acionista. E a pesquisa Empresas Humanizadas do Brasil, desenvolvida pelo professor Pedro Paro, da USP de São Carlos e o ICCB (Instituto Capitalismo Consciente Brasil), comprova todos esses pontos cientificamente.
O filósofo e colunista Luiz Felipe Pondé, a quem admiro e respeito pelo pensamento liberal, escreveu em 18 de outubro, nesta Folha, o artigo “Capitalismo Consciente é um gozo para idiotas inventado pela esquerda”. Não entendo o que o levou a essa afirmação, mas já que a trouxe proponho conhecer o ponto de vista de quem constrói o dia a dia o verdadeiro capitalismo consciente.
A afirmação “o capitalismo se caracteriza (...), por ser um sistema em que o capital tende a se reproduzir como entidade autônoma. Nesse processo, ele se torna o único valor absoluto e tudo mais se torna relativo à sua dinâmica. Esse sistema se tornou total: não há vida fora dele, mesmo quando você se ilude pensando que está operando contra ele” tem a sua verdade. Mas é justamente por isso, que o capitalismo está em xeque no mundo, mesmo tendo provado ser o melhor sistema econômico vigente, onde todos os demais ruíram.
A economista Rebecca Henderson, em seu mais novo livro “Reimagining Capitalism in a world on fire" (sem tradução ainda em português), pergunta: “O que é o capitalismo? Uma das maiores invenções humanas e enorme fonte de prosperidade? Uma ameaça à beira de destruir o planeta e desestabilizar a sociedade? Ou, alguma combinação que precisa ser reimaginada?”
No ICCB acreditamos que é “alguma combinação que precisa ser reimaginada”. E nosso propósito é ajudar a transformar o jeito de se fazer investimentos e negócios no Brasil, para diminuir a desigualdade.
O capitalismo consciente apenas existe em mercados livres, onde a iniciativa e a criatividade das pessoas para empreender e escolher seus trabalhos seja possível. Acreditamos que um negócio é bom quando cria valor, é ético ao ser baseado numa troca voluntária, é nobre quando eleva a nossa existência e heroico quando tira as pessoas da pobreza e gera prosperidade.
Os negócios conscientes devem ter um propósito maior, tratar todos os "stakeholders" de forma equânime, criar cultura e valores que garantam a sua perpetuidade e ter um líder consciente que cuida das pessoas e do nosso planeta. Capitalismo consciente não é “paz e amor, bicho, tu faz o que quiser, entrega resultado se der” — passa muito longe disso. Ser um líder consciente é ter a capacidade de organizar, mobilizar e engajar pessoas para atingir resultados, alinhados ao propósito. Não é levar as pessoas nas costas e fazer por elas. É levar as pessoas no coração e mostrar o caminho a ser trilhado.
Levar seu pet ao escritório ou jogar pebolim no trabalho não faz uma empresa mais ou menos consciente. A liderança que cuida das pessoas é que faz! Pois as pessoas são o reflexo de seus líderes e, por isso, se esses querem transformar as empresas, tem que primeiro transformarem a si mesmos.
*Hugo Bethlem é Chairman e co-fundador do Instituto Capitalismo Consciente, tem mais de 40 anos de experiência como executivo no varejo. Se especializou em gestão, empreendedorismo e governança em instituições como FGV, Cornell, Babson, IMD, Oxford e Stanford.
Muito bom o artigo e excelente oportunidade de esclarecimento sobre o capitalismo consciente para quem ainda não conhece a ideia. Que tenhamos mais espaços de diálogo para a sua propagação de forma séria e consistente.
Parabéns pela resposta ao artigo do Pondé. Realmente acredito no capitalismo consciente e no trabalho que desenvolvem. Contem comigo para sua propagação.
Excelente e oportuna réplica ao artigo do Pondé. Nem reconheço o Pondé no que escreveu. Sinal dos tempos...
O debate sobre o capitalismo consciente é amplo e oportuno. Tem muitas vertentes a serem exploradas. Porém concordo que precisamos organizar melhor esse debate.