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Saúde mental no trabalho: otimizando o ROI do seu maior ativo

Se as doenças mentais custam tanto aos bolsos das empresas, por que a implementação de programas de saúde psicológica e bem-estar ainda é lenta?

por Romero Rodrigues para a Revista HSM Management em 28 de fevereiro de 2020


É inegável que a saúde mental no ambiente de trabalho será trending topic em 2020. Ansiedade, burnout e depressão viraram capa de revista (HSM Management saiu na frente, com a capa de julho/2019), e não é por acaso. Somos o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, só ficamos atrás do Japão quando o indicador é o estresse.


Imagem 1 - Fonte: Isma-BR


Os problemas relacionados à saúde psicológica já constituem a segunda maior causa de incapacidade no Brasil, sendo que, em alguns setores e atividades, eles já assumiram o primeiro lugar em 2019. No entanto, por mais que diversos veículos estejam noticiando e cumprindo seu papel de conscientizar a população, os índices de adoecimento mental não param de piorar.


No universo corporativo, o adoecimento emocional afeta diretamente a lucratividade das organizações. Esses índices se configuram em prejuízo e aumento de custos, literalmente. Um estudo realizado pela London School of Economics and Political Science aponta que a depressão custa às empresas brasileiras mais de R$ 300 bilhões em perda de produtividade. Estamos falando de bilhões de reais jogados no lixo por não tratar adequadamente um problema sério.


Imagem 2 - Fontes: 1- Evans-Lacko, S & Kanpp, M. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol (2016); 2- Brazilian Budget - preliminary report


É sabido que o ativo mais precioso de qualquer empresa é o seu colaborador. Este, quando adoecido, impacta diretamente no resultado financeiro da organização, reduzindo a sua lucratividade. É isso mesmo que você quis dizer Romero? Sim, exatamente isso. Já estive na posição de CEO durante anos, e sou adepto da psicoterapia desde 2007, quando estava à frente do Buscapé. Como investidor, acompanho a trajetória de várias startups e empreendedores. Com base na minha experiência pessoal, posso afirmar que um ambiente emocionalmente saudável é mais produtivo e lucrativo. E as pesquisas estão aí para comprovar.


Convido você, leitor, a refletir comigo. Quando um líder ou funcionário de bom desempenho se afasta, ou mesmo pede desligamento da organização, por questões emocionais, o que acontece? A empresa precisa abrir um novo processo seletivo e arcar com custos da consultoria que fará o hunting (em geral 25% do salário anual para a posição). Além disso, precisa investir em treinamento e aguardar entre 9 e 12 meses para que aquele novo integrante consiga passar pelo ramp up e comece a entregar resultados de forma consistente. Quanto custo financeiro, emocional e de clima organizacional é envolvido neste movimento?


E não é só isso: não cuidar da saúde emocional tem efeito direto em outros indicadores como faltas, afastamentos e aumento do sinistro de saúde, em especial com custos em pronto atendimento, onde as despesas médicas são grandes ofensoras dos convênios médicos.


Imagine a seguinte situação: um colaborador com crise de ansiedade começa a sentir fisicamente sinais de taquicardia. Ele corre para o pronto socorro, pois acha que está à beira de um infarto, e, quando ele chega no PS, a hipótese do médico plantonista é exatamente essa: infarto. O protocolo faz com que diversos exames sejam realizados de modo a salvar aquela vida. Após ser revirado do avesso, o trabalhador descobre que não tem nenhum problema físico e que, provavelmente, aqueles sinais eram ansiedade. Sua empregadora, porém, fica com a fatura de todos os exames e consultas feitas no cenário mais oneroso para seu contrato.

Contudo, se as doenças mentais estão custando tanto aos bolsos das empresas, por que a implementação de programas de saúde psicológica e bem-estar ainda é lenta?

Uma pesquisa realizada pela Mercer Marsh em 2019 apontou que cerca de 50% das empresas alegam falta de budget para tratar o problema. Por outro lado, OMS e KPMG já publicaram estudos comprovando um retorno sobre o investimento superior a 4 vezes para ações preventivas de saúde mental. Se estamos falando de investimento, e não de custo, talvez esteja na hora de CEOs e CFOs colocarem a temática em pauta nas suas reuniões estratégicas.


É de suma importância que líderes empresariais compreendam que a intervenção em saúde psicológica requer o desenvolvimento de programas abrangentes. Estamos falando de prevenção, diagnóstico precoce, estruturação de programas eficientes de qualidade de vida e bem-estar, bem como uma cobertura mais competitiva de benefícios corporativos. É preciso olhar para a saúde de forma integral, englobando desde a disponibilização de psicólogos até incentivos à prática de atividade física e alimentação saudável.

Para driblar a falta de psicólogos em cerca de 50% dos municípios brasileiros, a tecnologia chega para ajudar. Soluções que contemplam streaming de vídeo e teleconsultas ampliam o acesso para pessoas que estão em cidades menores, bem como aquelas que desejam evitar o trânsito caótico dos grandes centros.


Startups como a Vittude têm auxiliado empresas como SAP, Resultados Digitais, RSI e 99 a cuidarem mais ativamente da saúde mental dos colaboradores. Além disso, empresas como Teladoc, Headspace e Calm seguem crescendo apoiados em telemedicina e aplicativos para funcionários. Apostar em saídas acessíveis e escaláveis pode ser o caminho, senão a solução.


Entendo ser responsabilidade do empregador criar políticas internas e estabelecer uma cultura de saúde psicológica e bem-estar, bem como práticas de diversidade e inclusão consistentes. É necessário oferecer recursos para que cada colaborador, individualmente, consiga ter acesso ao tratamento psicológico adequado, de forma preventiva, e não somente um canal de emergência, no qual ele só ligue nos casos em que a situação já está extremamente crítica.


A conscientização da alta gestão e dos principais líderes das organizações também é de suma importância, além de ações de comunicação robustas, para que a totalidade dos colaboradores tenham ciência dos benefícios disponibilizados e sejam educados a buscar ajuda.


A grande maioria das empresas ainda tem, como principal motivador para a gestão de saúde psicológica, o cumprimento única e exclusivamente das leis trabalhistas, demonstrando baixo interesse em investir na prevenção e no tratamento adequado das doenças mentais.


Infelizmente, as organizações ainda não respondem à saúde mental com a mesma paridade que o fazem em relação à saúde física, mesmo havendo evidências claras da eficácia e elevado retorno sobre o investimento.


No entanto, tenho certeza de que esse fato pode e deve ser mudado. Saúde mental dá lucro e está na hora de virar prioridade na pauta dos CEOs brasileiros.


* Disclosure: Vittude.com.br é uma empresa investida pela Redpoint eventures



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