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O que é (e o que não é) ESG — e o que trará retorno para o acionista daqui pra frente



Por Carlos Roxo para Reset em 24 de junho de 2021


O termo ESG (ambiental, social e governança, na sigla em inglês) tornou-se um acrônimo com vida própria, descolando-se às vezes do seu conceito e chegando a ser usado como sinônimo de sustentabilidade empresarial e gerando inúmeras polêmicas, como sobre a repartição de benefícios entre shareholders e stakeholders.


O conceito de ESG resultou das transformações da sociedade que tornaram a sustentabilidade uma nova dimensão dos negócios, gerando pressões sobre as empresas que precisam ser respondidas dentro de uma visão sistêmica, que considere os aspectos ambientais, sociais e de governança como sinérgicos, buscando a geração de valor a longo prazo, tanto para os acionistas quanto para os demais stakeholders.


Os críticos do conceito de ESG afirmam que esta abordagem só beneficia os intermediários e que o certo seria continuar com o “business as usual”, visando beneficiar apenas os shareholders, que são investidores, e não beneméritos.


Esses argumentos estão ao mesmo tempo certos e errados.



Estão certos quanto ao fato de que as empresas só serão sustentáveis enquanto beneficiarem os acionistas.


O problema é que o ESG é, por vezes, usado da forma errada, como um modismo, no atacado, e não como um conceito de gestão.


Esse modus operandi divide as empresas em grandes grupos, segundo indicadores pasteurizados, fazendo comparações entre ‘empresas ESG’ e ‘empresas não ESG’ ao longo de períodos determinados. Muito comumente as ‘empresas ESG’ mostram melhor desempenho, simplesmente porque são empresas melhores.


Os argumentos estão errados ao não considerar que, mesmo sob a ótica do retorno para o acionista, as condições para que eles tenham seu ganho maximizado mudaram, em um mundo bastante diferente do da época de Milton Friedman.

Historicamente, o sistema tinha poucos incentivos para olhar o longo prazo, pois poucos viviam muito tempo após a aposentadoria e seus investimentos lhes garantiam segurança. Agora o tempo de vida após a aposentadoria aumentou significativamente, e a manutenção do padrão de vida requer investimentos que deem retorno de longo prazo.


Outro fator que exige mudança é que as condições que garantem um retorno de longo prazo são outras também.


A maior ameaça são as mudanças climáticas, que demandarão transformações inexoráveis na matriz energética, processos de produção e produtos, que afetarão toda a sociedade – gerando vencedores e perdedores.


Uma das discussões no momento é sobre empresas petrolíferas que apostaram todas as suas fichas no petróleo, possuindo imensas reservas que correm o risco de jamais serem usadas. Essa estratégia tem feito com que a rentabilidade das ações de algumas delas tenha se reduzido nos últimos anos, em especial quando comparada a de empresas que vêm investindo em energias renováveis.


A mesma discussão está ocorrendo no setor automobilístico. A previsão geral é que os carros elétricos se imporão em prazo não muito longo, quando se tornarem mais baratos. Isso traz para os acionistas uma questão primordial: qual será o retorno a longo prazo das empresas que concentrarem os investimentos em veículos com motores à combustão?


Na mesma linha, as mudanças de hábitos dos consumidores, que já afetaram o consumo do papel de imprimir e escrever, deverão impactar no futuro o consumo de carne animal e de plásticos.


Há ainda outros fatores que podem reduzir ou mesmo destruir o retorno dos acionistas, como a não adequação à legislação e valores da cidadania, como aconteceu no Brasil; os desastres ambientais, que influenciam o preço das ações; e conflitos socioambientais, que por vezes interrompem a produção ou seu escoamento.


Daí a crescente pressão de investidores e consumidores por valores de cidadania das empresas, passando a ser um fator que influencia no desempenho.


Todas essas questões demandam um novo olhar para os stakeholders, que deve contemplar diversas dimensões (governança, estratégias, compliance, inovação, gestão socioambiental, comunicação e cultura), que se entrelaçam e precisam ser tratadas dentro de uma visão sistêmica, que é o princípio do conceito de ESG.


O retorno dos acionistas continuará sendo o fator determinante para o desenvolvimento da empresa, mas levando em conta questões que podem influenciar estes retornos, o que valoriza o papel dos stakeholders.


Para ajudar os acionistas em suas decisões, é preciso repensar as avaliações a partir de indicadores padronizados que, hoje, pouco as enriquecem.


A geração de valor de longo prazo das empresas só será bem avaliada se, tal como usual na medicina, os indicadores forem usados como suporte fundamental, sendo, no entanto, complementados por análises qualitativas dos elementos de sua matriz ESG, tal como os diagnósticos de saúde feitos por médicos a partir de exames de várias naturezas.


* Carlos Roxo é sócio da Maker Sustentabilidade e foi diretor de sustentabilidade da Fibria.


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