Cristina Diaz para Instituto do Capitalismo Consciente
A Base Nacional Curricular Comum (BNCC), documento que passou a regulamentar a Educação Básica em 2018, colocou dentro da competência das Escolas de Ensino Médio o preparo do jovem para o trabalho e para a cidadania.
Isso significa que, além das matérias ou disciplinas tradicionais, a Educação Básica, neste segmento compreendido entre a 1ª e a 3ª séries do Ensino Médio, terá de dar conta destes outros conteúdos dentro do que se chama de “itinerários formativos”. Estes itinerários são a parte flexível do currículo e são baseados em áreas do conhecimento (linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas), ou na formação técnica e profissional.
Dentro da formação técnica e profissional a BNCC faz a ressalva de o que se pretende “não é a profissionalização precoce ou atender às demandas do mercado de trabalho mas sim de desenvolver competências que possibilitem aos estudantes inserir-se de forma ativa, crítica, criativa e responsável em um mundo do trabalho cada vez mais complexo e imprevisível, criando possibilidades para viabilizar seu projeto de vida e continuar aprendendo, de modo a ser capazes de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores”.
Parece uma meta audaz, ainda mais após o descortinamento de tantas desigualdades e deficiências de nosso sistema educacional, que ocorreu durante a pandemia de COVID 19. Talvez a Educação nunca tenha sido tão solicitada, tão questionada, tão pensada e repensada pelos estudantes, pelas famílias, pelos professores e pelas Escolas. Ficou ainda mais evidente a importância de trazer significado para tudo aquilo que se trabalha na Escola. A Educação, enquanto sistema, está diante de um enorme desafio de acesso, de contextualização e de engajamento, mesmo após tantos esforços para que fossem mantidos os mínimos possíveis em tempos de aprendizagem remota.
Uma das maneiras encontrada, então, para atualizar e aproximar estes conteúdos escolares da vida prática é trazer para o campo da Escola, o empreendedorismo. E a BNCC faz isso de maneira clara quando diz que a Escola que acolhe as juventudes precisa:
“proporcionar uma cultura favorável ao desenvolvimento de atitudes, capacidades e valores que promovam o empreendedorismo (criatividade, inovação, organização, planejamento, responsabilidade, liderança, colaboração, visão de futuro, assunção de riscos, resiliência e curiosidade científica, entre outros), entendido como competência essencial ao desenvolvimento pessoal, à cidadania ativa, à inclusão social e à empregabilidade”.
Além destes termos, a BNCC ainda fala sobre desenvolver uma postura empreendedora ética e responsável, sobre a necessidade de se conhecer educação financeira, sistema monetário nacional e internacional e sobre incluir a compreensão dos impactos das inovações tecnológicas nas relações de produção, trabalho e consumo.
Ou seja, o que se requer dos jovens é que conheçam e sejam capazes de operar dentro de um sistema capitalista, mas que o façam de maneira ética, responsável, cidadã e crítica.
É um momento imperdível para sensibilizar uma nova geração a enxergar as empresas por um outro viés e de explicar que precisamos fazer as pazes entre “propósito” e “finalidade lucrativa”. É imprescindível que consigamos explicar a esses jovens que podemos, sim, liberar os negócios e seu espírito heroico e cocriar uma nova realidade empresarial com isso.
Podemos dizer, com certeza, que as Escolas precisarão de suporte e de apoio para desenvolver estes conteúdos com seus estudantes e que é uma excelente oportunidade para que o Capitalismo Consciente possa entrar, com seu conjunto de valores, dentro do currículo escolar e das Escolas. Que esses alunos consigam compreender a multiplicidade de fatores que precisam considerar e compatibilizar para tomar boas decisões pessoais e empresariais.
A construção conjunta de conceitos como liderança consciente, propósito, cultura consciente, autenticidade, e, como fazer disso algo lucrativo e autossustentável, pode ser a chave para fazer deste movimento educacional algo que tenha um real impacto sobre as novas formas de fazer negócios.
Cristina Diaz
Advogada de formação e filha de Professores, Cris cresceu com o tema Educação. Após 7 anos no mercado jurídico, em 2009 passou a se dedicar integralmente à criação, modelagem e ajuste de produtos e serviços educacionais inovadores que gerem impacto social, interesse e engajamento, dentro de instituições maduras e startups com ou sem finalidades lucrativas. Atualmente, Cris é a CEO do Canguru de Matemática, iniciativa privada que tem como missão mudar a maneira como a Matemática é vista no Brasil. Dentro do Canguru, Cris é responsável por três áreas: Concurso Canguru, publishing e conteúdo digital.
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