Destravando o potencial humano das organizações para a agenda 2030
Por Alda Marina Campos*. Modificado de Festival Alma - Grupo Anga
CALEIDOSCÓPIO 2020
Quem são as três pessoas mais competentes, influentes e conscientes que você conhece? Anote. Agora imagine se essas pessoas resolvessem trabalhar, juntas, colocando mente, coração e a potência das organizações, a partir das quais elas trabalham, para solucionar os desafios mais complexos que estamos vivendo como humanidade. E se elas fossem apresentadas a outros profissionais com o mesmo potencial e tivessem acesso às ferramentas certas?
Essa é teoria de mudança que motiva hoje toda uma comunidade internacional de inquietos, de 17 países, a se manter conectada e atuante dentro de centenas de organizações: a The League of Intrapreneurs.
No Brasil desde 2014, a comunidade local da Liga veio progressivamente ganhando força dentro de médias e grandes empresas, tecendo iniciativas de impacto e lançou em 2020 um convite aberto a nomeações para reconhecer e conectar mais intraempreendedores que hoje estão usando seu potencial humano, e o potencial de suas empresas e instituições, para melhorar o Brasil.
MAS, O QUE É INTRAEMPREENDEDORISMO?
O termo "intraempreendedor" foi cunhado em 1978, por Gifford Pinchot III*, e é a abreviação para o conceito de empreendedor intraorganizacional, ou aquele que empreende novas ideias, processos, produtos e serviços dentro de engrenagens organizacionais existentes. E isso inclui empresas, organizações da sociedade civil, governos, associações, instituições acadêmicas.
*Você pode conhecer o Gifford Pinchot III e intraempreendedores experientes nesse VÍDEO.
Atualmente, em 2020, num webinar sobre "Empreendedorismo de Impacto" para o público brasileiro do meio corporativo, o palestrante, muito possivelmente ainda precisa definir o termo "impacto". Mas, certamente, "empreendedorismo", já é parte da vida e do vocabulário desse público. E intraempreendedorismo? Progressivamente, menos. De poucos anos para cá, mais e mais profissionais, por exemplo, se autodefinem como intraempreendedoras em seus perfis nas redes sociais. Em janeiro de 2020 a Michael Page reconheceu o intraempreendedorismo como a habilidade número 1 em sua publicação "100 In-demand Skills of the Year".
E INTRAEMPREENDEDORISMO DE IMPACTO?
Um intraempreendedor de impacto, portanto, é aquele que trabalha a partir de uma organização existente, para causar impacto socioambiental positivo. Observe: ele não trabalha para uma empresa, mas a partir de uma empresa. Um outro lugar de fala, mentalidade, e atitude. E são esses profissionais que mais precisam atuar e se desenvolver em rede, para lidar com as complexidades e as resistências culturais do sistema.
EM SUMA, UM INTRAEMPREENDEDOR DE IMPACTO
Enxerga um mundo em que o propósito importa tanto quanto o lucro, e o bem-estar é um indicador-chave do sucesso.
Busca inovação, questiona os padrões existentes e assume riscos.
Assume responsabilidades e encara desafios celebrando cada conquista.
Mergulha nos projetos, faz acontecer, resolve os problemas e antecipa os imprevistos.
Possui visão sistêmica e sente necessidade de alinhar seus propósitos aos objetivos da sua organização gerando impacto positivo para a sociedade.
A LIGA NO BRASIL
Em 2016, participei, representando a Pares, de uma coalisão entre organizações pelo ecossistema de negócios do Rio de Janeiro: o Rio + B, cidade pioneira do que hoje é Cities Can B. Liga de Intraempreendedores, Sistema B, Fundação BMW, Pares e dezenas de organizações, se uniram e fizeram um convite a empresas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro para autoavaliar seus impactos socioambientais. Intraempreendedores e empreendedores, de 41 das 370 empresas que se autoavaliaram, fizeram parte de um laboratório de inovação e impacto positivo.
Despertei, ali, para o termo "intraempreendedor", que não conhecia, apesar de trabalhar com muitos há bons anos: aqueles inquietos, protagonistas e catalisadores de mudanças dentro das organizações.
Foi sinergia imediata e, com a experiência conjunta no laboratório, surgiu, da Co-líder Global, Florencia Estrade, o convite para ser catalisadora no Brasil. Fui, ainda em 2016, ao encontro global da League of Intrapreneurs em São Francisco, CA, conheci a comunidade internacional e passei a me dedicar também a desenvolver essa comunidade no Brasil.
Em 2017 costuramos a rede com encontros mensais no RJ e SP, identificamos e conectamos intraempreendedores, prototipamos mais projetos in company em empresas, e fizemos um Planejamento Estratégico para o desenvolvimento da Liga como comunidade local. Começamos a atuar no Brasil em três pilares estratégicos: fortalecimento de lideranças intraempreendedoras, aprendizagem organizacional para o intraempreendedorismo e fortalecimento do ecossistema intraempreendedor.
Em 2018 firmamos parceria com a Fundação Dom Cabral, reconhecida instituição de educação executiva, e fundamos o Centro de Intraempreendedorismo com sete empresas cofundadoras: Basf, Gerdau, Kluber Lubrication, Natura, Nestlé, Vedacit e VLI.
Todas apostaram conosco numa jornada de oito meses de pré-aceleração de projetos de impacto, assessment e desenvolvimento de cultura intraempreendedora. A experiência foi compartilhada com o ecossistema de negócios brasileiro por meio do relatório "Despertando o Poder do Intraempreendedorismo de Impacto no Brasil".
Ainda em 2019, a convite da Rede Brasileira do Pacto Global, nos tornamos parceiros locais, junto com FDC, do Inova 2030: um programa de aceleração de projetos intraempreendedores voltado para jovens profissionais, gerando soluções de negócio voltados para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Na edição 2019/2020 foram 43 jovens de 15 empresas, que aceleraram 15 soluções impactando no total 16 ODS, 11 soluções estão em fase de implantação.
COM QUEM A LIGA JÁ TRABALHOU NO BRASIL
Em março de 2020, todos viram suas vidas e agendas surpreendidas pela pandemia. Nossa resposta imediata foi nos apoiarmos, global e mutuamente, como comunidade, por meio de encontros virtuais. Cocriamos a primeira Global Intrapreneur Week, com a participação de mais de 1800 pessoas, de 87 países. A comunidade brasileira levou atividades e foi a segundo maior público dentre os inscritos no festival.
No Brasil, adaptamos a jornada multiempresarial do Inova2030 para contexto remoto e lançamos o curso online gratuito, hoje já com aproximadamente 500 lideranças inscritas.
Com o Caleidoscópio 2020, queremos mobilizar redes que trabalham a sinergia entre negócios e impacto positivo, reconhecer mais intraempreendedores de alto potencial de impacto e, por meio de uma jornada de conexão e desenvolvimento, apoiar a construção conjunta dos próximos capítulos do intraempreendedorismo de impacto no Brasil.
Os desafios são crescentes, mas temos muitos talentos que conhecem tanto o território e desafios do Brasil quanto as empresas e instituições onde trabalham. Esses talentos precisam se reconhecer, e ter acesso a ferramentas já testadas e aprimoradas por intraempreendedores experientes.
Sim, podemos reunir a força dos negócios, das ONGs, e das estruturas públicas, por meio das lideranças, e catalisar as mudanças que precisam ser feitas para atingirmos objetivos comuns para ampliar impacto. De dentro para fora.
Agora, sabe aquelas pessoas que você pensou no início do texto? Que tal recomendar que essas lideranças intraempreendedoras conheçam nossa comunidade no Brasil? No site há muitos recursos para download gratuito, e a possibilidade de se cadastrar para receber as novidades. Os encontros abertos e gratuitos da comunidade Brasil acontecem a cada segunda quinta-feira de cada mês, às 14h.
Você pode ser responsável por conexões transformadoras, e ser parte de toda essa história que estamos escrevendo, entre pares.
*Alda Marina Campos é sócia-fundadora da Pares Estratégia & Desenvolvimento, integrante do time global da Liga de Intraempreendedores, co-responsável pelo Brasil e Centro de Intraempreendedorismo. Professora em programas de Educação Executiva na PUC-Rio e Fundação Dom Cabral.
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