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Carbono: A moeda dos novos tempos

Atualizado: 4 de set. de 2020



por Marina Tavares* com colaboração de seus colegas da Black Jaguar Foundation (BJF), Dimitrio Schievenin e Ivan Nisida


Cresci frequentando o rio Araguaia e há pouco mais de um ano fui surpreendida por uma matéria que dizia que esse mesmo rio poderia secar em até 50 anos por conta do desmatamento da região. O impacto da manchete trouxe para perto o que parecia estar longe do meu contexto.

Hoje já sabemos (e sentimos) que o clima da Terra vem mudando rapidamente, muito além de uma variação histórica normal, e isso nos traz uma enorme insegurança sobre o futuro desconhecido das forças da natureza.


SEMEANDO FUTURO

Com o apoio de pesquisas científicas, já sabemos que a principal causa das mudanças do clima é a concentração dos gases do efeito estufa na atmosfera. Um desses principais gases é o gás carbônico (CO2), que emitimos diariamente por meio da queima de combustíveis fósseis para a realização de várias atividades humanas cotidianas (inclusive para compartilhar um conteúdo nas redes sociais).

E o que podemos fazer a respeito disso?

O primeiro passo é ter consciência da sua própria emissão a partir, por exemplo, de inventários de carbono realizado por consultorias especializadas (no contexto empresarial) e de calculadoras de pegada de carbono (no contexto individual). A ciência também já nos mostra que atividades como viajar de avião, usar veículos movidos à gasolina e o excesso do consumo de carne bovina estão no topo da lista de emissões de CO2. Estima-se que a média de emissão anual de CO2 per capita é de 5 tons de CO2 por ano (ref).

O segundo passo é buscar reduzir e até mesmo parar de realizar atividades emissoras de CO2 - diversas já são as opções e inspirações disponíveis para começar neste caminho (ref). Mesmo ainda diante de desafios práticos de viver uma vida “carbono zero”, neutralizar o carbono que emitimos diariamente também é uma opção muito efetiva, embora não deva ser interpretada como uma permissão para continuarmos emitindo carbono “sem culpa”.


Plantar árvores nativas é um exemplo eficiente de como podemos neutralizar nossas emissões de carbono (ref) e ajudar a mitigar as mudanças do clima. Uma pequena muda nativa plantada precisará extrair carbono da atmosfera para se transformar em uma árvore, promovendo assim uma captura de até 146 kg de CO2 ao longo de sua vida (ref). Voltando à média de emissões globais per capita, cada cidadão da Terra precisaria plantar cerca de 33 árvores por ano para neutralizar suas emissões de CO2.


CARBONO COMO MOEDA

Iniciativas como o mercado de carbono (ref), mesmo com suas imperfeições, vêm se mostrando como uma promissora tentativa global e organizada de compensar o impacto ambiental causado pela ação humana.


Nos países que aderem formalmente aos mecanismos deste mercado, são determinados tetos de emissões (em tons de CO2) para cada setor econômico. A partir disso, as empresas que ultrapassarem esse teto são obrigadas a comprar créditos de empresas que conseguiram ficar abaixo dele (cap-and-trade), sendo também possível negociar esses créditos no mercado internacional (por convenção, 1 tonelada de CO2 é equivalente à 1 crédito de carbono).


Um outro formato alternativo ao cap-and-trade, e inicialmente escolhido por países como o Chile, é o Carbon tax, onde o governo taxa as empresas emissoras de CO2 e redireciona esses recursos para ações de neutralização.


CENÁRIO BRASILEIRO

Ainda que o Brasil não faça parte do formato regulado, há alguns anos esse mercado já vem desenvolvendo seu formato voluntário por aqui, aquecendo localmente essa “nova moeda de troca”, chamada carbono.

Como exemplo de boas práticas no país, algumas empresas do segmento de aluguel de carros, como a Movida Aluguel de Carros, já oferecem para o seu consumidor final a opção voluntária de neutralização de carbono no valor da diária do aluguel de seus veículos. Elas atuam assim como importante vetor de conscientização, além de facilitar o processo de neutralização dessas emissões de CO2 para o consumidor final, repassando o montante arrecadado para organizações que realizam o plantio das árvores.

É a partir deste tipo de troca e colaboração que até março de 2022 o Corredor do Araguaia, no centro do Brasil, irá receber o plantio de 1 milhão de árvores nativas e se preparar para os próximos 10 milhões de árvores até 2025. Ao ser aplicado no plantio de árvores em larga escala, os recursos do mercado de carbono conseguem:


  • direcionar recursos do setor privado para melhorar a qualidade de vida das futuras gerações de uma forma objetiva, combatendo diretamente uma das frentes de maior ameaça à sobrevivência das próximas gerações: as mudanças climáticas;


  • incentivar e viabilizar a execução da restauração florestal/ecológica em larga escala brasileira já prevista em nosso Código Florestal (ref), uma legislação com reconhecida excelência jurídica-ambiental mundial;


  • trazer novas oportunidades de renda e emprego para populações fora dos centros urbanos por meio das atividades da economia da restauração ecológica.


PEGADA NEGATIVA

Já não vivemos a era em que reduzir o dano e ser “carbono-neutro” é suficiente. Não basta somente reduzir, zerar. Precisamos ir além e compreender a importância de compensar o dano coletivo que foi causado no passado e que continua sendo causado diariamente pela escolha do nosso modo de viver - não apenas individualmente, mas como espécie humana. Essa é a era da regeneração em larga escala, da construção de um modo de viver que seja “carbono-negativo” e de um entendimento global do valor da nossa troca com o meio ambiente, com os recursos naturais que nos dão condições para a vida.

Todos nós, quase 8 bilhões de seres humanos, estamos intimamente conectados pelo ar que respiramos. Todos nós, quase 8 bilhões de seres humanos, também somamos juntos uma imensa habilidade de responder a esse chamado emergente e urgente de regeneração.

Com consciência e colaboração nós vamos longe.


Você pode iniciar a redução de sua pegada de carbono agora: acesse o site da Black Jaguar Foundation (BJF), parceira do Capitalismo Consciente, e plante sua árvore.


 

Marina Tavares* passou sua infância explorando o Rio Araguaia com sua família e por esse motivo ela tem uma intensa conexão com a região. Marina tem mais de 9 anos de experiência nas áreas de Marketing e Comunicação. Ela também trabalhou como gestora de projetos em várias organizações, atuando em causas sociais-ambientais. Na BJF Marina promove cooperações, amplia parcerias e auxilia em atividades operacionais. Além disso, ela coordenou os grupos de pesquisa do Estudo de Custo-Benefício que será lançado em um WEBINAR promovido pela BJF dia 09.09, às 10h.




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